"A vida não cabe numa teoria" - Exposição sobre o autor Miguel Torga
Miguel
Torga nasceu em 1907 em São Martinho de Anta, concelho de Sabrosa, Trás-os-Montes,
onde cresceu. De nome Adolfo Correia da Rocha, adotou o pseudónimo de Miguel
Torga (torga é o nome dado à urze campestre que sobrevive nas fragas das
montanhas, com raízes muito duras, infiltradas por entre as rochas). Depois de
uma breve estadia no Porto, frequentou, apenas um ano, o seminário de Lamego.
Em 1920 partiu para o Brasil, onde foi recebido na fazenda de um tio. Regressou
depois a Portugal acompanhado do mesmo, que se prontificou a custear-lhe os
estudos em Coimbra. Em apenas três anos fez o liceu, matriculando-se a seguir
na Faculdade de Medicina, onde terminou o curso em 1933. Exerceu a profissão na
terra natal, passou por Miranda do Corvo, mas foi em Coimbra que acabou por se
fixar. A escrita acompanhou-o até ao final da vida.
A Vida não Cabe numa Teoria
"A vida... e a gente põe-se a pensar em quantas maravilhosas teorias
os filósofos arquitectaram na severidade das bibliotecas, em quantos belos
poemas os poetas rimaram na pobreza das mansardas, ou em quantos fechados
dogmas os teólogos não entenderam na solidão das celas. Nisto, ou então na
conta do sapateiro, na degradação moral do século, ou na triste pequenez de
tudo, a começar por nós.
Mas a vida é uma coisa imensa, que não cabe numa teoria, num poema,
num dogma, nem mesmo no desespero inteiro dum homem.
A vida é o que eu estou a ver: uma manhã majestosa e nua sobre estes
montes cobertos de neve e de sol, uma manta de panasco onde uma ovelha acabou
de parir um cordeiro, e duas crianças — um rapaz e uma rapariga — silenciosas,
pasmadas, a olhar o milagre ainda a fumegar."
Miguel Torga, in “Diário” (1941)
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